Animais que fingindo que estão mortas.



Ao se sentirem ameaçadas, muitas cobras em árvores simplesmente relaxam o corpo e caem no chão para fugir do perigo. Outras, porém, como a cobra da grama européia e a focinho-de-porco americana, são atrizes perfeitas: quando se encontram em situação de grande risco e sem chance de fuga, as duas deitam-se de barriga para cima fingindo que estão mortas. O maxilar caído, a língua pendente, a barriga para cima e a imobilidade de quem já não está nesse mundo, são bastante convincentes. Mas o efeito pode ser estragado pela força do seu instinto, que acaba por denunciá-la quando ela se contorce para virar-se de novo de barriga para cima, caso um predador a desvire por curiosidade.


A representação mais incrível de morte é a da cobra da mata das Índias Ocidentais. Essa pequena serpente, quando ameaçada, enrola-se e permanece imóvel, imitando a rigidez cadavérica. Em seguida, os fluidos que recobrem as suas escamas soltam um cheiro podre de carne em decomposição, para ajudar o sucesso da ilusão que está pretendendo criar. Como efeito final, o sangue liberado por minúsculas veias especiais enche os olhos do “cadáver” enroscado e pinga da boca aberta. Assim, um predador como o mangusto, um dos poucos animais que comem serpentes, é levado a crer que ela já está morta há algum tempo, e a menos que esteja com muita fome, ou goste de carne putrefata, essa encenação costuma ser suficiente para fazê-lo desistir ou hesitar, dando tempo para a cobra fugir.





Em outro lugar da floresta, um coiote faminto agarra um gambá do tamanho de um gato e dirige-se para os arbustos, levando entre os dentes a presa flácida e aparentemente sem vida. Chegando lá, ele se acomoda e relaxa a mordida um instante, o suficiente para que a suposta vítima se liberte e saia em disparada procurando à árvore mais próxima, deixando o espantado caçador de boca vazia, e faminto. O gambá é o único marsupial – mamífero com bolsa – da América do Norte, e seu nome deriva da palavra indígena “apasum”, que significa animal branco.


Seu hábito de fingir-se de morto quando ameaçado é famoso. Com a aproximação do perigo o gambá amolece o corpo, deixa a cabeça pender para um lado, abre a boca e coloca a língua de fora. Embora pareça morto e nem sequer estremeça quando grave-mente mordido pelo predador, o cérebro do gambá permanece em plena atividade para identificar e aproveitar a menor chance de fuga. De que forma o animal alcança esse aparente bloqueio total dos sentidos é um mistério insolúvel para os zoólogos. Essa frieza sob pressão é realmente impressionante e convincente, embora o ato de se fingir de morto, como é conhecido tal comportamento, seja uma estratégia arriscada.

Essa tática – conhecida pelos cientistas como akinesis ou thanatasis – não é exclusiva dos gambás. Também é empregada pelo camaleão, uma espécie de lagarto mais conhecido por mudar a cor da pele escamosa do que por seus dotes de ator. Mas quando se depara com o perigo, ele faz uma representação de morto igualmente convincente, deixando-se cair de lado com as pálpebras fechadas e as pernas duras.






Os lagartos dependem de sua velocidade e agilidade para escapar do perigo. Mas se apenas correr não for suficiente, qualquer um deles se valerá de um recurso incrível e extraordinário para tentar salvar a vida: diante de uma ameaça maior: o que estiver em risco cortará e deixará para trás a própria cauda, o que não só confundirá seu atacante como fará com que o mesmo concentre nela a sua atenção, enquanto o mutilado por vontade própria dispara à procura de um lugar onde se esconder. Ou seja, o lagarto oferece a sua cauda, em troca da segurança do resto do seu corpo. Alguns lagartos monitores predadores – hoje divididos em: quelônios (tartarugas, cágados e jabutis), crocodilianos (crocodilos, gaviais e jacarés) e escamados (lagartos, cobras e tuataras) aproveitam esse hábito para se alimentar quase que exclusivamente dessas caudas descartadas.


A explicação para essa atitude insólita é que a cauda do lagarto tem partes que podem ser destacadas à vontade pela simples contração de alguns músculos. Embora a fratura ocorra na espinha, a perda causa pouco desconforto à criatura. Isso porque as juntas, no ponto de ruptura, são de cartilagem e não de osso, e os nervos e vasos sangüíneos são comprimidos para reduzir a dor e a perda de sangue. Mesmo não sendo essencial para esse tipo de réptil, a cauda tem papel importante no seu equilíbrio e reprodução, e por isso, volta a crescer com o tempo, embora possa diferir da original em comprimento e desenho. Por isso existem casos em que o lagarto acaba tendo mais de uma cauda (registros da era vitoriana – entre 1837 e 1901 – falam de um lagarto com sete delas). Mas desenvolver um novo apêndice igual ao perdido exige bastante energia, o que é perfeitamente compreensível. Quando um predador recusa-se a comer o “lanche” deixado para trás, alguns lagartos voltam para ingerir suas pró-prias caudas descartadas.

A cobra de vidro, ou licranço, que também é conhecida pelos nomes de alicanço e fura-mato, na realidade não é cobra, mas sim um lagarto sem pernas, cujo nome deriva da extraordinária capacidade que tem para despedaçar o próprio corpo. Nos momentos em que está ameaçada e sob pressão, essa criatura de um metro e meio de comprimento quebra sua cauda em todas, ou quase todas suas juntas, deixa para trás esses pedaços retorcendo-se sozinhos, e trata de escapulir o mais depressa que pode, reduzida, às vezes, a dois terços do seu comprimento original.

Por sua vez, uma espécie de lagartixa encontrada em Porto Rico também se desmantela diante do perigo. Ela espalha pedaços de pele de todas as partes do corpo, ou mesmo toda sua cobertura externa, e sai em busca de segurança (na ilustração acima, uma lagartixa que ficou sem a cauda).


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