1- Rei do gado
Boiadeiro Miron, de Goiás, fica milionário com prêmio da Loteria Esportiva em 1975
Já o carioca Eduardo Varela ganhou R$ 41 milhões em 1972, mas acabou falindo
Criada em 27 de maio de 1969, a Loteria Esportiva, popularmente conhecida como Loteca, virou febre nos anos 70, graças à esperança dos brasileiros de se tornarem milionários da noite de domingo para a manhã de segunda-feira. A chance de fazer os 13 pontos lotou as lotéricas e revelou muitos sortudos. O mais célebre deles é o boiadeiro Miron Vieira de Souza, morador da pequena Ivolândia, no interior de Goiás. No concurso 254, em setembro de 1975, ele faturou sozinho 22 milhões de cruzeiros (que equivaleriam, hoje, a cerca de R$ 46 milhões). Humilde, com poucos dentes na boca e praticamente analfabeto, Miron investiu em casas, carros e terras. Também comprou uma dentadura. Até hoje, sua família vive dos rendimentos do prêmio.
No caso do carioca Eduardo Varela, o Dudu da Loteca, a fortuna escapou rápido. Em abril de 1972, aos 23 anos, ele cravou Juventus no jogo contra o Corinthians. Deu zebra e Dudu ganhou um prêmio de 11 milhões de cruzeiros, ou R$ 41,2 milhões. Comprou imóveis — entre eles um apartamento na Avenida Vieira Souto, ainda hoje um dos endereços mais exclusivos do Rio — e investiu em dois hotéis em Campos de Jordão. Mas acabou falindo.
O maquinista Jovino Viriato de Campos foi um dos primeiros milionários da Loteria Esportiva. Fez os 13 pontos sozinho em agosto de 1970. O prêmio de 2,9 milhões de cruzeiros equivaleria hoje a R$ 14,7 milhões. Dois anos após levar a bolada, já tinha comprado uma fazenda, em Vassouras, no Médio Paraíba Fluminense, e feito outros investimentos. Mas acabou perdendo tudo e morrendo pobre.
Dois baianos também figuram na lista de milionários que perderam tudo. Francisco Portela recebeu 14,7 milhões de cruzeiros (R$ 39,3 milhões), em abril de 1974. Na época, aplicou na construção imobiliária em Salvador e faliu. Já Nivaldo Eduardo dos Santos, vencedor do concurso 96, de 16 de julho de 1972, ganhou 2,96 milhões de cruzeiros, o equivalente a R$ 10,768 milhões. Mas aplicou em negócios fracassados — um dos quais lhe rendeu uma dezena de processos trabalhistas — e em farras. Acabou perdendo tudo. Até os dentes de ouro precisou vender para pagar dívidas. No início dos anos 2000, vivia nas ruas de Salvador.
2- Benefeitora
Mulher sai à procura de emprego e fica milionária
Na Irlanda, uma mulher saiu de casa para se inscrever no Centro de Emprego local e voltou com o bilhete vencedor do mais alto prémio do Euromilhões alguma vez atribuído naquele país - 32 milhões de euros. Desempregada aos 48 anos, Margaret Loughrey v
Na Irlanda, uma mulher saiu de casa para se inscrever no Centro de Emprego local e voltou com o bilhete vencedor do mais alto prémio do Euromilhões alguma vez atribuído naquele país – 32 milhões de euros. Desempregada aos 48 anos, Margaret Loughrey viu a sorte bater-lhe à porta na passada terça-feira, não querendo acreditar quando foi feito o anúncio da chave vencedora.
Desesperada com a situação em que se encontrava, que lhe permitia sobreviver apenas com 70 euros por semana, Margaret dirigiu-se ao Centro de Emprego de Strabane, County Tyrone, onde vive, para se inscrever e concorrer às ofertas em curso. No caminho de regresso a casa, parou e decidiu usar os trocos para apostar no Euromilhões.
“Não costumo jogar, porque não tenho como dispensar dinheiro para isso. Desta vez tinha uns trocos na carteira e, na altura, pensei, porque não? Uma vez não são vezes….”, conta a mulher ao Mirror.
Feita a aposta, a empregada entregou-lhe o talão com os números 19, 23, 27, 42 e 44 e as estrelas 3 e 5. Na quarta-feira, depois de acordar, ligou a televisão e nem queria acreditar quando a chave anunciada correspondia à que tinha consigo. “Fiquei num tal estado de choque que devo ter conferido uma dez vezes”, conta.
“Tive de sair de casa, fui caminhar um bocado pelo jardim das traseiras, sentei-me, mas não aguentei e pouco tempo depois estava outra vez com o bilhete na mão, a verificar vezes e vezes se conta se tinha visto bem”, acrescenta. E confirmava-se. Margaret era mesmo a vencedora do prémio do Euromilhões a concurso, que correspondia também ao maior jackpot na Irlanda do Norte.
Com o milionário numerário já na sua conta bancária, a premiada diz ainda não ter planos para o dinheiro, sabendo apenas que uma parte irá para a sua família de quatro irmãos, irmã e mãe e alguns amigos chegados.
“Seja o que for que fizer com ele, vai ser bom. Se for para mudar alguma coisa, será sempre para melhor. Quero que ele traga felicidade a mais pessoas para além de mim”, diz a irlandesa que, para já, não quer sair de County Tyrone.
“Não vou mudar quem sou. Strabane vai ser sempre a minha casa, por isso vou ficar. Talvez compre uma casa maior ou vá de férias para sítios diferentes, mas mais do que isso não. Não para já”.
3- Sortuda
Ex-BBB Paulinha Leite ganhou 24 vezes na Loteria
Ex-participante do “Big Brother Brasil 11” a empresária Paulinha Leite já ganhou 24 vezes na loteria. Na última, em abril, ela abocanhou R$ 6.930 ao acertar uma quadra na Quina. Mesmo com tanta sorte, a ex-BBB sempre bate na trave. Na Mega Sena da Virada de 2013, por exemplo, Paulinha não levou o prêmio principal de R$ 224 milhões por não ter acertado o 14, que ela diz ser o seu número da sorte.
Sempre jogo o 14 por ser um número que me traz boas lembranças. Minha inscrição no BBB tinha essa numeração. Eu também fui a 14ª a entrar e a sair da casa. Mas, no jogo da virada, em 2013, eu errei ao esquecer essa minha tradição. Ganhei R$ 174 mil, mas poderia ter levado o prêmio principal — lamenta a ex-BBB.
Mesmo com tantos acertos, a ex-integrante do reality show não joga semanalmente. Ela conta que aposta de forma aleatória.
Em algumas semanas eu jogo duas vezes. Em outras, nem lembro que existe loteria.
O primeiro prêmio faturado por Paulinha foi na Quina, em 2011, no valor de R$ 5 mil. A partir daí, acumula um ganho de R$ 289 mil nas outras 23 vezes.
Estou guardando os valores para um projeto meu de criação de um condomínio. Todos os extras que ganhei com a loteria estou juntando.
A dica da sister para quem joga sempre é ter um número da sorte.
Tente se lembrar daquela numeração que sempre faz parte da sua vida e aposte — aconselha.
4- Independência
Em julho de 2011, Colin e Christine Weir se tornaram os maiores ganhadores de loteria da Europa depois de terem acertado um jackpot de £161.653.000,00 no Euromilhões.
Houve uma reviravolta na vida de Colin e Christina Weir, casados há trinta anos: eles passaram a fazer parte da lista dos mais ricos do Reino Unido, ultrapassando até mesmo o Ringo Starr e o Tom Jones.
Abaixo, a Sra. Weir descreve a noite da grande vitória:
“Estávamos assistindo ao seriado CSI na tevê, numa noite normal como qualquer outra. Quando deu meia-noite, eu decidi que era hora de dormir, mas não antes de checar os resultados do Euromilhões. Nós havíamos comprado cinco lucky dips (bilhetes com números aleatórios) e o jackpot estava bem alto. Então, eu comecei a circular os números que eu tinha acertado, mas não parecia estar indo muito bem. Depois, na quinta linha, todos os números estavam batendo. Eu consegui todos, mas não estava acreditando no que estava vendo. Eu chequei os números mais três ou quatro vezes antes de descer pelas escadas para encontrar com Colin.”
Christine Weir, 55, trabalhava como enfermeira psiquiátrica, enquanto seu marido Colin Weir, 64, trabalhou como cinegrafista de TV e gerente de estúdio por 23 anos. Agora que eles têm mais dinheiro do que os Beckhams, o casal comprou uma mansão e uma frota de carros para os amigos. Eles também criaram o seu próprio grupo de caridade, batizado de Weir Charitable Trust, para apoiar grupos comunitários na Escócia e pequenas instituições de caridade.
O casal de Ayshire também ocupou as manchetes do país por terem se tornado os maiores contribuintes políticos no Reino Unido naquele ano, após a doação de três milhões de libras para a campanha “Yes Scotland”, que luta pela independência escocesa.
Já um ganhador do Euromilhões na Espanha chegou bem perto do casal Weir. Francisco Delgado Rodríguez trabalhava na padaria de sua família em Pilas, Espanha, antes de ter tirado a sorte grande. Delgado acertou todos os cinco números e os dois números estrelas da sorte, ganhando um total de US$ 170.300.000,00. Detalhe: a chance de isso acontecer é de 1 em 116 milhões.
5- Presidencial
O brasileiro que ganhou R$ 30 milhões na loteria e depois perdeu tudo
Você já conheceu alguém que ficou milionário e perdeu tudo? Pois é, isso já aconteceu aqui no Brasil.
Em 1983, o baiano Antônio Domingos, de 46 anos, ganhou na Loto o equivalente hoje a R$ 30 milhões.
Assim que recebeu o dinheiro, pediu demissão do emprego de zelador e foi morar na suíte presidencial de um hotel em Salvador. Cinco anos depois, já estava falido No entanto, o que parecia ser a chave para uma vida nova não durou muito tempo. Antônio gastou todo o dinheiro e hoje vive com um salário próximo a R$ 500 por mês.
6- Lixeiro
Britânico que ganhou R$ 26 milhões na loteria quer voltar a ser lixeiro
Michael Carroll tinha 19 anos quando recebeu o prêmio, que gastou em oito anos.
Um inglês que ganhou 9,7 milhões de libras (cerca de R$ 26 milhões) na loteria oito anos atrás quer de volta seu emprego de lixeiro depois de ter gastado toda a sua fortuna.
Michael Carroll, de Norfolk, na Inglaterra, tinha 19 anos quando ganhou o prêmio, em novembro de 2002.
Na ocasião, ele foi apelidado de "grosseirão da Lotto" pelos tabloides por causa de seu histórico de problemas com a Justiça. Ele ainda era monitorado pelas autoridades penitenciárias com uma etiqueta eletrônica - depois de ser condenado por bebedeira e desordem pública - quando foi receber o prêmio.
Michael Carroll tinha 19 anos quando ganhou o prêmio (Foto: BBC)
Ele agora colocou sua casa de seis quartos à venda e está tentando voltar ao antigo emprego para poder sustentar as duas filhas.
A empresa Veolia, que controla a limpeza das ruas na região, no entanto, afirmou
que não está contratando novos lixeiros no momento.
Carroll disse à BBC que fez com o dinheiro o que, segundo ele, qualquer garoto de 19 anos faria se ganhasse 9,7 milhões de libras: gastou-o.
Ele afirma que não se arrepende de nada e lembra, como pontos altos da vida de milionário, as viagens, prostitutas e o dinheiro. Entre os pontos baixos está o vício em crack, que ele conta já ter superado.
"Fiz o que fiz, me diverti, tenho duas filhas lindas, não preciso de mais nada."
O ex-milionário diz que quer voltar a ser lixeiro porque foi o "melhor emprego" que ele já teve.
"Trabalhava do lado de fora, me divertia com as pessoas na rua".
Em 2006, quando Carroll foi condenado por tumulto em Norwich, o tribunal ouviu que ele havia cometido mais de 42 ofensas criminais desde 1997.
No passado, ele admitiu à BBC ter gasto 1,2 milhão de libras de sua fortuna (cerca de R$ 3,2 milhões) em cocaína, antes de se livrar do vício.
Ao aconselhar outros jovens que recebam tanto dinheiro quanto ele, Carrol falou: "boa sorte. Não confiem em ninguém, nem na sua família".
Há 35 anos, Nivaldo ganhou uma bolada na loteria esportiva, hoje é um excluído
A história de Nivaldo Eduardo, um dos primeiros milionários com a Loteria Esportiva no Brasil, que hoje mora na rua e sofre com hanseníase
Era uma vez um jovem de 20 e poucos anos na idade e nas prioridades de vida, estômago e veias sempre calibrados pelos melhores uísques que o dinheiro pode comprar, cercado pelas melhores mulheres cuja companhia pode ser alugada, certo de que ser um nababo é uma condição perene como ser um diabético, por exemplo. Pois aquele moço, que viajou do padrão de assalariado para a rotina de milionário apresentando um bilhete com o placar certeiro de 13 jogos de futebol, agora é este homem abandonado na região do Aquidabã, sobrevivente das migalhas de quem deixa um carro estacionado aos seus cuidados. Nivaldo Eduardo dos Santos, um dos primeiros milionários do Brasil com a Loteria Esportiva, aos 62 anos, perdeu de goleada uma partida em que enfrentou a soberba.
O conto de fadas que nas histórias da carochinha persiste até alguém ser feliz para sempre para Nivaldo durou, no máximo, seis anos. E seu maior pecado foi apenas ter ficado rico repentinamente com 27 anos de idade. “Que experiência que eu tinha?” A bolada recebida por Nivaldo equivaleria hoje a um pouco mais do que R$6 milhões, valores atualizados pelo Índice Geral de Preços ao Consumidor, da Fundação Getúlio Vargas.
Dinheiro suficiente para comprar mais de 300 carros populares, ou cerca de 60 apartamentos de três quartos em um bairro de classe média de Salvador, ou ainda 950 mil sanduíches Big Mac. De certa forma, o prêmio foi torrado nesse tripé: carro, moradia e gastronomia, além de sessões de um hedonismo proporcional a sua conta bancária.
Credita toda a sua ruína a investimentos malfadados em letras mortas e sociedades em negócios falidos, principalmente na instalação do primeiro check-up eletrônico para veículos em Salvador, a Oficina Auto Elétrica 2001, nos Dendezeiros, que originou processos trabalhistas dos quase 20 empregados e uma dívida com a Justiça, que ele precisou pagar cumprindo pena na detenção. Mas parece tomado de uma conveniente amnésia que o faz esquecer dos esbanjamentos em até cinco Dodge Dart ao mesmo tempo na garagem e que se algum arranhasse a lataria no meio-fio, ele providenciaria passar adiante e comprar um novo na sempre solícita concessionária. E não faz questão nenhuma de mencionar que foi o responsável pela emancipação imobiliária de grande parte das mulheres damas do Pelourinho, que conseguiram comprar casas próprias graças a sua generosidade de cliente priápico e bem-dotado financeiramente.
Na fase boa, fazia da ponte aérea Salvador-Rio de Janeiro um percurso tão banal como ir do Farol da Barra até a praia de Stela Maris. Se tinha jogo do Bahia no Maracanã, pagava a viagem de 20 amigos, de avião, para a capital carioca. Nivaldo já foi assíduo companheiro das mulatas de Sargentelli, hoje vive na sarjeta.
É do tipo que insiste nunca ficar arrependido, frustrado ou saudosista do período de fausto. Só que todas as suas narrativas querem provar o contrário. Lembra com exatidão o valor do prêmio (2,976 milhões de cruzeiros novos), a data da extração (16 de julho de 1972) e até o número do concurso (nº 96, já que a loteria tinha sido criada em abril de 1970). É como aquele namorado que teima em dizer não sofrer com o fim do relacionamento, mas não esquece o dia em que começaram a namorar, a roupa que ela estava usando e até o perfume com aroma de pêssego misturado com alfazema e uma leve fragrância de pasta de dente, cabelos lavados com xampu de babosa.
Antes, podia gastar o equivalente a R$1 mil por dia que não pensava em pobreza. Hoje, precisa dormir num albergue na Barroquinha e batalha por uma aposentadoria por invalidez. Como se não bastasse a desgraça monetária, Nivaldo ainda é hanseniano. Os dedos encolhidos e parecendo estar pela metade, a pele descascando em úlceras brancas e secas dão os contornos miseráveis de um corpo sendo carcomido pela doença, enquanto a alma é corroída por lembranças. A diferença é que a primeira, cientificamente chamada de hanseníase, é perfeitamente curável com os medicamentos que ele toma. O segundo mal-estar é de difícil tratamento e um dos principais sintomas é o murmúrio reincidente que se ouve como um suspiro: “Que experiência que eu tinha?”
O novo-pobre fala com a boca mole, desdentada, também ela hipotecada pela miséria. Tinha a maioria dos dentes de ouro e quase todos foram extraídos para pagar os estertores de sua riqueza. Os primeiros foram trocados por uma dívida, já os últimos serviram para pagar comida.
Já foi vizinho de craques do Flamengo, nos apartamentos de Ipanema, hoje passa a maior parte do tempo ao lado do casal Ivan e Maria, que estendem um lençol de mendigos na calçada e colocam o filho Ivanzinho como refém e vetor da sensibilidade alheia. Garante não ter arrependimento. “Se tivesse, me suicidava, como já vi muita gente se jogando de carro da ponte Rio-Niterói”.
Nas redondezas do Terminal do Aquidabã, a história desse ser humano falido é de domínio público. Honório, o proprietário da farmácia que vende os medicamentos de hanseníase, indica seu local de trabalho diário. Seu Careca, o veterano dono do bar, com quatro décadas de Aquidabã, foi o principal confidente das memórias cheias de dinheiro e aventura de Nivaldo. Ele não trabalha mais no balcão, mas passou todos os capítulos para o filho Roberto. E mesmo assim, perguntar por Nivaldo é o mesmo que nada. É só falar no milionário da loteria que todos se lembram: “Ah, é Oreia”.
Com os lóbulos da orelha alargados e amolecidos, como se fossem os lábios de índios deformados por rótulas da tradição, Nivaldo deixa mais do que boas histórias no convívio com os comerciantes da região. Às vezes, ele larga, involuntariamente, uns pedaços de carne pelo balcão.
Dos nove filhos que teve com mulheres diferentes, cinco já morreram. Dois deles ainda aparecem para ver o pai e o tratam como... leproso. São também desvalidos que só fazem reclamar do fato de ele ter perdido uma fortuna. Nos poucos comentários que elaboram, apenas dizem que estariam melhor de vida se este não fosse tão perdulário. Mas é claro que não dizem com essas palavras. Preferem termos como “imprestável, vagabundo e irresponsável”. A companheira mais fiel foi a última mulher, também uma renegada social, que se apoiavam mutuamente na vida de rua. Morreu atropelada há três meses no Aquidabã e Nivaldo não teve direito a receber nenhum tipo de seguro.
É difícil Nivaldo admitir, mas continua fazendo uma fezinha. Ele vigia o carro do dono da banca da Paratodos, que se tornou amigo e confidente, Ricardo José, e quando este vai pagar R$0,50 ou R$1 pelo serviço Nivaldo pede que jogue na centena ou no milhar. Em mais de 10 anos de hábito seria natural que o ex-milionário ganhasse uns trocados no bicho (apostando no macaco ou na zebra), mas isso nunca aconteceu. “A sorte bateu uma vez na vida dele e pronto. Ele não soube aproveitar”, condena Ricardo.
É também uma visão cartesiana de uma trajetória. O protagonista não acha o mesmo. Quando o álcool do uísque vagabundo ou do conhaque começa a fazer efeito, ele desdenha dos interlocutores na roda onde o papo tem invariavelmente o mesmo julgamento moral: “Como é que você foi desperdiçar isso tudo?” Nivaldo encerra o assunto de forma taxativa: eu aproveitei tudo e bem, vocês vão ter três vidas e não conseguirão gozar tudo que eu tive.
Realmente, deve ser um cansaço repetir sempre a mesma história, responder sempre as mesmas perguntas sobre como é poder comprar qualquer carro, qualquer bebida, ou quase qualquer mulher na hora em que se quer. Por outro lado, é o momento em que Nivaldo se sente vivo, na oportunidade de recordar, de sensibilizar, de oferecer ao outro uma viagem mental por todos aqueles caminhos que ele percorreu em carne e osso. Curtiu a vida igual a uma cigarra daquela fábula sobre ser precavido ou extravagante. Escolheu ser a personagem de quem todos sentem pena no final. “Mas que experiência que eu tinha?”
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